"Continuo a mesma Cora de sempre, prefiro ser considerada rude, irônica, a viver com máscaras"

Coragoiana

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

COMEÇAR DE NOVO


Por Coraci Machado Araújo

Esse poema eu escrevi um dia que vinha daquelas viagens de visita às escolas.(2001/2004) Naquela oportunidade vinha da Gleba Martins. Era uma época que tinha muitas queimadas e os rios estavam quase secos. Algumas árvores começavam vestir uma nova roupagem e os passarinhos, timidamente, cantavam e procuravam, em vão, frutas para comer.

Por isso, esse poema sobre o desrespeito ao meio ambiente, suas conseqüências e a força da natureza de superar os maus tratos e começar de novo.

O fogo passou levando tudo

O que era alegria virou tristeza

A floresta ficou de luto

Com a mancha da natureza


No coração da floresta,

Uma chaga, um desespero

Alguém fez derrubada

E a alma maculada

De milhões de brasileiros.


O rio perdeu seu leito

Suas matas ciliares

E chora sem caminho, sem estrada

Sob imponentes olhares

Suas águas espalhadas

Suas margens assoreadas

Pelas árvores derrubadas.


Nas árvores do cerrado

Os pássaros não cantam mais

Em cada pedaço de chão

O que era paz

Virou lágrima no sertão

No coração dos animais.


A água que banhava o varjão

Secou seu manancial

Para esse coração nenhum cirurgião

Nenhum quarto de hospital.


Homem, motosserra, machado, fogo

Só ingratidão

A natureza começa de novo

E leva esperança ao povo

Com uma nova certidão.


Sob novos olhares da sociedade

Após as chibatas e grilhões

A natureza não está morta

Dá seu grito de liberdade

E vai procurando respostas

Para suas indagações.


Como fênix, apesar do amor ferido

Das cinzas vai renascendo

Fazendo pulsar seu coração sofrido

E sua história vai sobrevivendo.

Veja:

A chuva que deita e levanta o pé de feijão

Fazendo o milagre da transformação

Da semente, o grão, para a mesa do cidadão.


Na margem do rio e em seu leito

A água desce seu curso na maior calmaria

Como se imitasse o jeito

De uma romaria.


A floresta vai se recompondo de mais uma jornada

Renascendo agora

De alma lavada

Do que lhe fizeram outrora.


Os pássaros felizes em seus ninhos de amor

Esperam confiantes

Que germine a semente

Que se fará flor

E será mesa farta, para a família do pássaro e do trabalhador.


A ressurreição do cerrado

Depois da passagem do fogo

Tudo parece passado

As árvores se vestem de flores

De todas as cores

E começam de novo.

ESCRITO EM 21-10-02

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